No mês de julho, observou-se a continuidade da tendência de recuperação das bolsas, notada desde maio deste ano, com avanços expressivos do S&P500 (+5,5%) e do Ibovespa (+8,3%). As notícias positivas sobre as vacinas contra o novo coronavírus aliadas à redução do isolamento social foram importantes fatores para essas altas. O dólar registrou uma queda de 4% neste mês em relação ao real, enquanto o ouro manteve sua tendência de alta, com valorização de 5,81%. Em contrapartida, os dados referentes ao PIB americano foram aquém do esperado, com uma queda de 32,9% no segundo trimestre deste ano comparado ao mesmo período do ano anterior e com queda de 1,8% em relação ao primeiro trimestre desse ano. Também houve uma elevação nas tensões entre China e EUA, além da perda de força política do governo com a derrota na votação do FUNDEB, com a proposta de uma reforma tributária pouco abrangente e com a repercussão negativa da tributação sobre transações digitais.
As tensões entre China e EUA se intensificaram com o fechamento do consulado chinês no Texas e com a subsequente retaliação chinesa, que fechou o consulado americano em Chengdu. Isso ocorre no contexto da corrida eleitoral nos EUA e de uma disputa sobre a propriedade intelectual com relação às vacinas contra a COVID-19. O atual presidente e candidato à reeleição, Donald Trump, vem perdendo espaço nas últimas pesquisas eleitorais para seu rival democrata, Joe Biden, e utiliza o movimento contra a China como uma forma de demonstração de força e de atribuição de responsabilidade aos chineses quanto à pandemia. A disputa sobre propriedade intelectual com relação à vacina contra o novo coronavírus ficou aquecida após dois hackers chineses serem acusados de tentar roubar informações sobre uma vacina americana. A proibição do aplicativo TikTok nos EUA, anunciada pelo presidente americano na última sexta (31), também ocorreu nesse contexto de acusação de roubo de dados por parte da China.
No cenário local, observou-se uma perda de força política do governo devido à aprovação do FUNDEB com uma expressiva votação, de 492 votos a favor e apenas 6 contrários no segundo turno, mesmo com a oposição do Planalto à proposta. Isso também representou uma derrota do líder do bloco político do centrão, o deputado Arthur Lira (PP-AL), mais próximo do governo e visto como o candidato do presidente Jair Bolsonaro para a sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara dos Deputados. Outra dificuldade para essa sucessão foi a saída dos partidos MDB e DEM do Centrão, dando indícios de que devem lançar um outro candidato. Também houve a saída de Rubem Novaes da presidência do Banco do Brasil, em mais uma baixa da equipe econômica do ministro Paulo Guedes. Mais um fato relevante foi a apresentação do projeto da reforma tributária enviado ao Congresso no dia 21. A princípio, houve uma boa reação do mercado quando ficou definido que ela seria enviada ao Congresso, mas, após a apresentação, ela foi vista como uma proposta tímida, dado que propõe basicamente a união de dois impostos federais, PIS e Confins, em um IVA, deixando de lado impostos municipais e federais que causam bastante distorção, como o ICMS. Isso foi outro indicativo de baixa capacidade de articulação política, uma vez que essa medida foi apresentada por meio de projeto de lei, de tramitação mais simples, e não de uma PEC. A proposta de um imposto sobre transações digitais, apelidado de CPMF digital, reforçou essa animosidade dos investidores.
O mês de julho também foi marcado por um avanço no desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19, com destaque para os resultados promissores da vacina desenvolvida pela universidade de Oxford em parceria com a empresa AstraZeneca, que apresentou bons resultados preliminares divulgados na revista Lancet. Também houve a aprovação de uma vacina na Rússia, que, segundo o governo russo, passará a ser administrada já em outubro. No Brasil, o mês de julho foi o mais letal, com mais de 32 mil mortes em decorrência dessa doença.
Em relação ao comportamento das carteiras, há valorização constante desde maio. A posição do dólar apresentou um recuo neste mês com a valorização do real, mas em uma margem prevista e acompanhada de avanços nas posições expostas à bolsa, a exterior e a ouro. No cenário de taxa de juros baixa e da redução da volatilidade das bolsas globais, continuamos aumentando gradualmente a exposição das carteiras em fundos multimercados de baixa volatilidade e a entrada na parte exterior. Também foram feitos mais aportes em fundos quantitativos a fim de aumentar a diversificação das carteiras.
Correção no preço das ações, incertezas frente a eleições e o cenário fiscal
Inflação de atacado e endividamento público preocupam