O imposto que ninguém paga: por que “taxar os ricos” pode deixar um país mais pobre

O que realmente gera prosperidade para um país? Em um ambiente polarizado, respostas complexas perdem espaço para slogans sedutores. E poucas ideias soam tão justas e simples quanto "taxar os super-ricos". O discurso é convincente, especialmente em um país de maioria pobre. Mas, e se essa solução, vendida como um atalho para a justiça social, for na verdade um caminho para o empobrecimento coletivo?

Este artigo é uma conversa sincera, longe do barulho das redes sociais. A discussão que vemos na mídia é frequentemente vaga, baseada em projeções irreais que partem de uma premissa ingênua: a de que os milionários assistirão passivamente à expropriação de seu patrimônio. A história e os dados, no entanto, revelam que quando um país tenta resolver problemas complexos com “canetadas”, o resultado é quase sempre o mesmo: a conta não chega para o bilionário, que tem recursos para se proteger, mas sim para a família de classe média e para os mais pobres, que ficam com a estagnação e a falta de oportunidades.

Onde o dinheiro realmente mora? O “pequeno detalhe” que a discussão ignora

O primeiro fato que o debate ignora é o mais fundamental: para taxar uma fortuna, ela precisa estar ao alcance do fisco. Quando olhamos para os maiores bilionários do Brasil, vemos um padrão claro de migração de residência fiscal.

  • Jorge Paulo Lemann (3G Capital / AB InBev): Reside na Suíça desde 1999.
  • Eduardo Saverin (Cofundador do Facebook): Reside em Singapura.
  • Vicky Safra e família (Banco Safra): A matriarca reside predominantemente na Suíça.
  • Carlos Alberto Sicupira (3G Capital / AB InBev): Reside na Suíça.
  • Alexandre Behring (3G Capital): Reside nos Estados Unidos.
  • David Vélez (Fundador do Nubank): Reside no Uruguai.

A pergunta óbvia é: por quê? A resposta vai muito além de simplesmente “pagar menos impostos”. Pessoas com grande mobilidade e recursos buscam três coisas que o Brasil oferece com pouca consistência: segurança pessoal para suas famílias, estabilidade jurídica para seus negócios e previsibilidade de regras para proteger o patrimônio que levaram uma vida para construir. A mera discussão sobre um novo imposto, com tons confiscatórios, funciona como um alarme de incêndio, acelerando a decisão de quem ainda está aqui de planejar sua saída.

A cruel ironia: por que a conta sempre chega no consumo?

É preciso ser honesto e admitir uma verdade desconfortável: o Brasil tributa, sim, desproporcionalmente a base da pirâmide. Mas por quê? A resposta não está na maldade, mas na matemática de um Estado gigantesco que precisa ser financiado por uma base produtiva formal muito pequena.

A realidade é que o Brasil tem uma base de contribuintes formais muito pequena para o tamanho do Estado que precisa sustentar. Com uma vasta economia informal e um número reduzido de pessoas com altos salários declarados, o governo historicamente recorre à única fonte de arrecadação que é massiva e inescapável: o consumo. O que temos, portanto, é uma máquina pública financiada por uma massa de mais de 200 milhões de consumidores. Diante da dificuldade de fiscalizar a renda, o Estado fez o que era mais fácil: taxou o carrinho de supermercado, a conta de luz e o combustível.

Lições do exterior: a riqueza que foge e a pobreza que fica

“Mas que mal há em taxar quem tem muito?” A experiência internacional nos oferece lições duras e claras sobre isso. A ideia de que se pode taxar pesadamente o topo da pirâmide sem afetar a base é uma falácia perigosa.

O cemitério de impostos europeu 

Na década de 1990, doze países da OCDE (o “clube dos países ricos”) possuíam um imposto sobre a riqueza. Hoje, a grande maioria o abandonou. Alemanha, Áustria, Suécia, Dinamarca e Finlândia revogaram a medida após constatarem os mesmos resultados: fuga de capitais e arrecadação pífia. A França, após ver um êxodo estimado em €200 bilhões, substituiu seu imposto sobre fortunas em 2018. Mais recentemente, a Noruega viu uma debandada recorde de seus bilionários após um pequeno aumento no imposto, resultando em uma perda líquida de arrecadação.

O caso da Argentina

Nosso vizinho é talvez o exemplo mais doloroso e próximo. Em 2020, o governo implementou o “Aporte Solidario y Extraordinario”. O resultado foi um roteiro clássico do fracasso: arrecadação pífia, êxodo de empreendedores, O caso mais emblemático foi o de Marcos Galperin, fundador do Mercado Livre, a maior empresa da américa latina, que se mudou em definitivo para o Uruguai. E por fim, o empobrecimento geral da população.

É exatamente isso que acontece em escala nacional. Um ambiente hostil ao capital cria o que chamamos de “mentalidade de bunker”. Em vez de correr riscos, quem tem recursos se retrai. Na prática, isso significa menos vagas de estágio para o seu filho recém-formado. Significa menos clientes para o pequeno negócio da sua rua. Significa menos investimento em tecnologia para resolver os problemas do dia a dia. A estagnação do capital no topo rapidamente se transforma em escassez de oportunidades na base.

O caminho oposto: a lição do nosso vizinho, o Uruguai

Enquanto alguns países flertam com o empobrecimento ao afugentar seus maiores investidores, outros, inclusive na nossa vizinhança, prosperam fazendo exatamente o contrário.

O Uruguai é o exemplo mais claro. Por décadas, o país se posicionou como um porto seguro de estabilidade jurídica e previsibilidade na América latina. Com uma política ativa de atração de investimentos e residentes, oferecendo benefícios fiscais e um ambiente de negócios amigável, o país atraiu milhares de argentinos, venezuelanos e agora brasileiros ricos fugindo da crise. O resultado é visível: bairros como Punta del Este e Carrasco, em Montevidéu, se desenvolveram com investimentos maciços, gerando empregos de qualidade e uma economia de serviços vibrante. O Uruguai entendeu que é mais lucrativo ser um “condomínio” atraente do que um que expulsa seus moradores mais abastados.

Este é o ponto central que um planejamento financeiro sério precisa considerar. Não se trata de “driblar o fisco”, mas de construir uma estrutura sólida, inteligente e globalizada que seja resiliente a essas tempestades políticas e que posicione seu patrimônio onde ele é bem tratado e pode prosperar.

A solução real: fazer o bolo crescer, não apenas dividi-lo

A prosperidade de uma nação raramente nasce de slogans ou da divisão entre “nós” e “eles”. Ela floresce em um ambiente onde a economia não é vista como um bolo pronto a ser dividido, mas como uma massa que precisa crescer. O verdadeiro segredo do sucesso de nações prósperas é criar as condições para que o bolo cresça para todos. Não se trata de tirar de um para dar a outro; trata-se de criar um ambiente de segurança e estabilidade que incentive quem sabe multiplicar o capital a fazê-lo no país. Esse movimento, naturalmente, transborda para toda a sociedade.

Infelizmente, o debate público atual parece mais focado em capitalizar politicamente a polarização do que em analisar a eficiência real das propostas. Essa abordagem, no fim, distrai o país das soluções que verdadeiramente poderiam gerar crescimento.

Enquanto isso, quem pode, se protege. E é para isso que a Rio Claro existe: para garantir que o maior número possível de pessoas tenha acesso a estratégias que assegurem, seja em momentos bons ou ruins, a qualidade de vida de suas famílias.

Na Rio Claro Investimentos, nosso trabalho vai além de uma análise pontual; construímos um relacionamento profundo para entender seus objetivos de vida, monitorar riscos como estes e ajudá-lo a construir uma fortaleza patrimonial resiliente. Não podemos mudar a direção dos ventos políticos, mas podemos e devemos ajustar as velas do seu barco.

Em vez de ficar paralisado pela incerteza, o momento exige ação. Converse conosco para descobrir como um planejamento financeiro integrado pode proteger o que você já construiu e, ao mesmo tempo, posicionar seu patrimônio para crescer de forma segura e sustentável.

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