Guia Prático do PL 1087/2025: Entenda o Fim da Isenção de Dividendos e as Novas Regras de Tributação

A Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 1087/2025, que propõe uma das mais relevantes alterações no sistema tributário brasileiro das últimas décadas. O ponto central da proposta é o fim da isenção de Imposto de Renda sobre os lucros e dividendos distribuídos por empresas a pessoas físicas, uma regra que estava em vigor desde 1996.

O texto agora segue para análise do Senado Federal. Dado o avanço da proposta, é fundamental compreender as mudanças de forma clara e prática. Este guia tem o objetivo de explicar, com exemplos simples, o que de fato deve mudar caso a lei seja sancionada.

O Que Muda na Prática? A Nova Tributação de Dividendos

A principal alteração é a criação de uma nova regra de tributação sobre os lucros que uma empresa distribui aos seus sócios (pessoas físicas).

  • A Regra: Fica estabelecida uma cobrança de 15% de Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) sobre o valor dos dividendos pagos.

Exemplo Prático 1: Recebendo Dividendos

Imagine um sócio que, ao final do ano, tem direito a receber R$ 200.000 de lucros da sua empresa.

  • Cenário Atual (Antes da Lei):
  • Valor distribuído: R$ 200.000
  • Imposto sobre o dividendo (PF): R$ 0 (Isento)
  • Valor líquido recebido pelo sócio: R$ 200.000
  • Cenário Proposto (Com a Nova Lei):
  • Valor distribuído: R$ 200.000
  • Imposto retido na fonte (15%): R$ 30.000
  • Valor líquido recebido pelo sócio: R$ 170.000

A “Compensação”: Redução do Imposto para a Empresa

Para equilibrar a nova cobrança sobre os sócios, o projeto prevê uma redução no Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ). A ideia é que a empresa pague menos imposto, deixando mais lucro disponível para ser distribuído.

  • A Regra: A alíquota total de impostos sobre o lucro (IRPJ + CSLL) para empresas nos regimes de Lucro Real e Lucro Presumido cairá de 34% para 29%.

Exemplo Prático 2: O Efeito Combinado (Empresa + Sócio)

Vamos analisar uma empresa que gerou um lucro de R$ 1.000.000 antes dos impostos e que distribuirá todo o resultado para um único sócio.

  • Cenário Atual (Antes da Lei):
  1. Na Empresa:
  • Lucro antes do imposto: R$ 1.000.000
  • Imposto (IRPJ+CSLL a 34%): R$ 340.000
  • Lucro líquido (distribuível): R$ 660.000
  1. No Bolso do Sócio:
  • Dividendo recebido (isento): R$ 660.000
  • Total líquido final: R$ 660.000
  • Cenário Proposto (Com a Nova Lei):
  1. Na Empresa:
  • Lucro antes do imposto: R$ 1.000.000
  • Imposto (IRPJ+CSLL a 29%): R$ 290.000
  • Lucro líquido (distribuível): R$ 710.000
  1. No Bolso do Sócio:
  • Dividendo distribuído: R$ 710.000
  • Imposto retido na fonte (15%): R$ 106.500
  • Total líquido final: R$ 603.500

Conclusão do Exemplo: Mesmo com a redução do imposto para a empresa, a carga tributária total no fluxo (Empresa -> Sócio) aumenta. No exemplo acima, o valor final no bolso do sócio foi R$ 56.500 menor.

Outros Pontos Importantes da Reforma

1. Empresas do Simples Nacional

A proposta mantém a isenção de dividendos para as empresas enquadradas no Simples Nacional. Essa medida visa proteger micro e pequenas empresas, que seguirão as regras atuais de distribuição de lucros.

2. A Isenção Anual de R$ 5.000

O texto prevê uma isenção anual de até R$ 5.000 sobre o total de rendimentos de capital, o que inclui não apenas dividendos, mas também juros sobre capital próprio (JCP) e outros rendimentos de aplicações financeiras. Para a maioria dos empresários e investidores, este valor é considerado baixo e não altera o impacto geral da tributação.

3. O Papel de uma Holding Financeira

Uma holding (empresa que detém participações em outras) continua sendo uma ferramenta importante para organização patrimonial e planejamento sucessório. No entanto, ela não isenta a tributação final. O imposto de 15% será devido quando o lucro sair da holding para o CPF dos sócios. A transação between a empresa operacional e a holding (ambas Pessoas Jurídicas) permanece isenta.

Próximos Passos e Conclusão

Com a aprovação na Câmara, o PL 1087/2025 agora será debatido e votado no Senado, onde pode sofrer alterações. A expectativa do mercado é que a estrutura principal da proposta seja mantida, com uma alta probabilidade de aprovação final.

As novas regras, se confirmadas, exigirão uma reavaliação das estratégias de distribuição de lucros, reinvestimento e estruturação societária por parte de empresários e investidores.

É fundamental que as decisões sejam baseadas em uma análise técnica do novo cenário. O entendimento claro de como as novas alíquotas e regras se aplicam ao seu caso específico é o primeiro passo para um planejamento tributário e financeiro eficiente. Uma conversa com um especialista pode auxiliar a navegar por essas mudanças e a tomar as melhores decisões para o seu patrimônio.

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