Atualização do Valor de Imóveis: Vale a Pena Optar pela Lei 14.973/2024?

Publicado

Autor

A Lei 14.973/2024 trouxe uma aparente oportunidade para proprietários de imóveis no Brasil: a possibilidade de atualizar o valor dos seus bens para o valor de mercado, pagando uma alíquota reduzida de imposto. Mas será que essa opção é vantajosa para você? Neste artigo, vamos explorar em detalhes como funciona essa atualização, suas vantagens e desvantagens, e ajudar você a decidir se vale a pena aderir a essa nova possibilidade.

Como Funciona a Atualização

A lei permite que tanto pessoas físicas quanto jurídicas atualizem o valor de seus imóveis para o valor de mercado, pagando impostos com alíquotas reduzidas sobre a diferença entre o valor de aquisição e o valor atual de mercado.

Para Pessoas Físicas a alíquota é de 4% sobre a diferença entre o valor de aquisição e o valor de mercado e para Pessoas Jurídicas

IRPJ 6% e CSLL de 4% sobre a diferença, totalizando 10%. Em ambos os casos, o pagamento deve ser feito em até 90 dias após a publicação da lei, ou seja, até 20 de dezembro de 2024.

Benefício Fiscal Progressivo

Neste artigo, vamos focar nas pessoas físicas. O grande problema dessa lei é que o benefício fiscal proporcionado pela atualização não é imediato; ele aumenta progressivamente ao longo de 15 anos. Caso o imóvel seja vendido antes desse período, o benefício é reduzido proporcionalmente conforme a tabela abaixo:

Tempo Decorrido Após a AtualizaçãoPercentual do Benefício
Até 36 meses0%
De 36 a 48 meses8%
De 48 a 60 meses16%
De 60 a 72 meses24%
De 72 a 84 meses32%
De 84 a 96 meses40%
De 96 a 108 meses48%
De 108 a 120 meses56%
De 120 a 132 meses62%
De 132 a 144 meses70%
De 144 a 156 meses78%
De 156 a 168 meses86%
De 168 a 180 meses94%
Após 180 meses100%

Portanto, mesmo após desembolsar os 4% agora, caso você venda o imóvel em algum momento nos próximos 15 anos, ainda precisará pagar uma parte adicional dos impostos referentes ao ganho de capital atualizado.

Vantagens e Desvantagens:

Vantagens

1. Redução da Alíquota de Imposto: Em vez de pagar a alíquota padrão do Imposto de Renda sobre Ganho de Capital (que varia de 15% a 22,5%, dependendo do valor do ganho, de forma progressiva), o contribuinte paga apenas 4% (pessoa física) ou 10% (pessoa jurídica) sobre a diferença entre o valor de aquisição e o valor de venda.

2. Planejamento Financeiro: A atualização permite que o contribuinte regularize a situação patrimonial dos imóveis, evitando surpresas fiscais futuras.

Desvantagens

1. Custo de Oportunidade: O dinheiro utilizado para pagar o imposto antecipado poderia ser investido, gerando rendimentos ao longo dos anos.

2. Perda do Benefício em Caso de Venda Antecipada: Se o imóvel for vendido antes de 15 anos, o benefício fiscal é reduzido proporcionalmente.

3. Risco de Mudanças na Legislação: Existe a possibilidade de a lei ser revogada ou alterada, o que pode impactar o benefício esperado.

Vale a Pena Atualizar?

Vamos fazer as contas considerando um exemplo para entender na prática a melhor decisão:

Cenário

Valor de Aquisição do Imóvel: R$ 500.000

Valor de Mercado Atual: R$ 1.000.000

Ganho de Capital: R$ 500.000

Imposto a ser pago agora com a Atualização:

Pessoas Físicas: 4% de R$ 500.000 = R$ 20.000

Imposto de Renda sobre Ganho de Capital Sem a Atualização:

Alíquota: 15% (para ganhos até R$ 5 milhões); 17,5% para ganhos de R$ 5 milhões a R$ 10 milhões; 20% para ganhos de R$ 10 milhões a R$ 30 milhões; 22,5% para ganhos acima de R$ 30 milhões.

A alíquota é aplicada de forma progressiva, ou seja, cada faixa de ganho é tributada separadamente, conforme os valores dentro de cada faixa.

Logo no caso analisado, o imposto será: 15% de R$ 500.000 = R$ 75.000

 Custo de Oportunidade

E se você não pagar os R$ 20.000 agora e investir esse valor, quanto ele renderia em 15 anos?

– Taxa de Retorno Anual: Vamos considerar três taxas: 8%, 10%, e uma opção real de investimento que é o Tesouro Prefixado, que hoje paga 12,6% ao ano (até 2035).

 A uma taxa de 8% ao ano:

– Valor Futuro: R$ 20.000 x (1 + 0,08)^{15} ≈ R$ 63.366

 A uma taxa de 10% ao ano:

– Valor Futuro: R$ 20.000 x (1 + 0,10)^{15} ≈ R$ 83.473

 Tesouro Prefixado a 12,6% ao ano:

– Valor Futuro: R$ 20.000 x (1 + 0,126)^{15} ≈ R$ 128.366

Veja que, com exceção do primeiro caso, nos outros dois você acumularia um capital superior à economia feita com a atualização, e isso se mantém inclusive se considerarmos os impostos de renda decorrentes dos investimentos! Isso vale tanto para o exemplo em particular quanto para qualquer valor dentro da mesma alíquota (ganhos de capital abaixo de R$5.000.000,00)

Comparação com o Imposto Futuro

Concluímos, então, que, no exemplo, caso você opte por não pagar os R$ 20.000 agora e invista esse dinheiro, você terá provavelmente um montante consideravelmente maior que os R$ 75.000 que seriam economizados em impostos. E tem mais: se esperar mais do que os 15 anos requeridos para vender o imóvel, esse retorno vai ficando exponencialmente maior!

Ponto de Equilíbrio

Para finalizar as contas, vamos entender o ponto de equilíbrio necessário para conseguir empatar o benefício fiscal da nova lei:

O imposto diferido é de R$ 75.000 – R$ 20.000 = R$ 55.000

 – Se você investir os R$ 20.000 e eles se transformarem em R$ 75.000 em 15 anos, a taxa de retorno necessária seria:

    – R$ 20.000 × (1 + r)^{15} = R$ 75.000

    – (1 + r)^{15} = 3,75

    – 1 + r = (3,75)^{1/15}

    – r ≈ 9,38% ao ano

Ou seja, se sua carteira de investimentos render mais de 9,38% ao ano, o que é relativamente simples quando olhamos o retorno histórico médio de carteiras de investimento no Brasil devido a nossos juros altos, é financeiramente mais vantajoso não atualizar o valor do imóvel.

Conclusão

Em resumo, a atualização raramente faz sentido, mesmo que o proprietário tenha a certeza de manter o imóvel por 15 anos, a cada ano a mais depois disso a conta vai ficando menos vantajosa. O adiantamento do imposto valeria a pena apenas no cenário em que não existissem melhores opções de investimento, o que não é a realidade atual, ou que o imóvel tivesse um valor extremamente alto chegando nas últimas alíquotas de imposto, e mesmo assim teria que ser vendido exatamente daqui a 15 anos pois cada ano a mais faria o adiantamento ter sido menos vantajoso. Especialmente em um momento como o atual, com juros em alta e taxas atrativas nos títulos de longo prazo, fica claro que investir os recursos tende a ser muito mais vantajoso que a economia fiscal.

Gostou?
Para mais dicas financeiras, acompanhe o blog da Rio Claro Investimento e se inscreva no nosso canal do YouTube e ative o sininho para notificações.

Nossas redes:

linkedin.com/company/rioclaroinvestimentos

youtube.com/@RioClaroInvestimentos

instagram.com/rio.claro/

instagram.com/rioclaroinves

Faça parte do clube

Gostaria de ler mais artigos como este?
Se inscreva para receber a nossa newsletter.

Posts Relacionados

ETFs Irlandeses, ainda valem a pena em 2025?

Nos últimos tempos, os ETFs irlandeses têm ganhado destaque entre investidores brasileiros, especialmente com as mudanças trazidas pela PL das Offshores. Mas o que exatamente são esses ETFs e por que eles estão chamando tanto a atenção? Neste artigo, vamos explorar os principais benefícios, exemplos de ETFs e como eles podem se encaixar na sua estratégia de investimentos.

Por que 2025 é o ano perfeito para começar seu planejamento financeiro!

Planejamento financeiro é o caminho para sua segurança e liberdade em 2025. Apenas 17% dos brasileiros planejam a longo prazo - seja diferente. Conquiste seus objetivos com a Rio Claro Investimentos.

Ficou rico de repente? Leia este artigo antes de tomar qualquer decisão

Imagine acordar um dia e descobrir que sua conta bancária aumentou exponencialmente. Embora seja raro, isso acontece. Talvez você tenha herdado uma fortuna, vendido sua startup ou assinado um grande contrato como artista ou atleta profissional. A sensação inicial é de euforia; afinal, quem não gostaria de realizar todos os seus sonhos financeiros?

Resolução CVM 179: Um novo marco de transparência no mercado financeiro brasileiro

Resolução CVM 179: um marco de transparência no mercado financeiro brasileiro! A partir de novembro de 2024, instituições deverão detalhar remunerações e conflitos de interesse, permitindo decisões mais informadas e seguras para investidores. Confira como isso impactará o mercado!

Tabeliães: PGBL e otimização tributária

Se você é tabelião e busca investimentos com foco no longo prazo, a Previdência Privada, em especial quando feita no formato PGBL, é uma opção que precisa ser considerada devido a seus benefícios tributários únicos.Neste artigo, você irá entender como funciona o PGBL e como tomar as decisões mais importantes para acrescentar da forma correta esta ferramenta ao seu planejamento financeiro.

Atualização do Valor de Imóveis: Vale a Pena Optar pela Lei 14.973/2024?

A Lei 14.973/2024 trouxe uma aparente oportunidade para proprietários de imóveis no Brasil: a possibilidade de atualizar o valor dos seus bens para o valor de mercado, pagando uma alíquota reduzida de imposto. Mas será que essa opção é vantajosa para você? Neste artigo, vamos explorar em detalhes como funciona essa atualização, suas vantagens e desvantagens, e ajudar você a decidir se vale a pena aderir a essa nova possibilidade.
plugins premium WordPress